É com muita alegria que começo hoje uma bela parceria com Franco Ciarleglio (ver também este post): traduzir para o português periodicamente algumas das histórias, curiosidades, crendices populares e lendas sobre a Florença medieval e renascentista que foram reunidas em um pequeno e curioso livro idealizado por Franco: “Lo Struscio Fiorentino”.
A tradução do titulo do livro seria o mesmo que “Passeando por Florença” e um passeio feito “a passos lentos”. Estas histórias servem para contar um pouco sobre a vida cotidiana de séculos atrás, desta belíssima cidade que hoje conhecemos como o berço do Renascimento!
E para começar este trabalho, escolho uma das historias que mais gosto “Il canto dei Bischeri” ou “A esquina dos Bischeri” que fala sobre uma família cujo nome hoje é usado no linguajar informal florentino como uma expressão muito curiosa! Boa leitura!
Obs: tomo a liberdade no final de cada tradução, caso seja necessário, de explicar algumas expressões, nomes ou lugares ligados a historia de Florença, separadamente da tradução do texto de Franco, de modo a facilitar o entendimento e esclarecer o contexto histórico da narrativa.
È con molta allegria che inizio una bella collaborazzione con Franco Ciarleglio (guardare anche questo post): tradurre al portoghese periodicamente alcune delle storie, curiosità, credenze popolari e legende sulla Firenze medioevale e rinascimentale che sono state riunite in un piccolo e curioso libro idealizzato da Franco: “Lo Struscio Fiorentino”.
La traduzione del titolo del libro al portoghese sarebbe “Passeando por Florença”. Queste storie servono per raccontare un po’ sulla vita quotidiana di secoli passati nella città che oggi conosciamo come la culla del Rinascimento!
E per cominciare questo lavoro, scelgo una delle storie che mi piaciono di più “Il canto dei Bischeri” che parla di una famiglia in cui il cognome oggi è usato nel vocabolario informale fiorentino come un’espressione molto curiosa! Buona lettura!
oss: mi permetto quando necessario, alla fine di ogni storia tradotta, di chiarire alcuni espressioni, nomi o luoghi legati alla storia di Firenze, separatamente dalla traduzione del testo di Franco, di modo a facilitare la comprensione e il contesto storico nel quale si passa la narrativa.
IL CANTO DEI BISCHERI : A ESQUINA DOS “BISCHERI”

A família dos Bischeri* (ou Bischéri, como possivelmente deveria ser a pronuncia correta) tinha suas casas e bodegas próximas à parte posterior da abside de Santa Reparata**.
Quando a Comuna*** de Florença e os florentinos decidiram construir uma nova Catedral muito maior que a antiga e dedicá-la a Santa Maria del Fiore (Santa Maria da Flor) foi deliberado a demolição de todos os edifícios públicos e privados que se encontravam dentro de um determinado raio no entorno da antiga igreja de Santa Reparata, para possibilitar assim a organização do canteiro de obras e o inicio dos trabalhos de construção da nova e enorme igreja, promovida pela instituição conhecida como”Opera del Duomo” de Florença.
A Comuna de Florença ofereceu na época um “equo indennizzo”, uma espécie de indenização igual a todas as famílias que fizessem parte desta área de entorno de modo que pudessem construir suas casas e bodegas em outra parte da cidade e assim retomar suas vidas e suas atividades sem maiores problemas.
Todos aceitaram com exceção da família dos “Bischeri” que se recusaram categoricamente a sair de suas propriedades sendo inútil as varias tentativas de intermediação.
A situação parecia não ter solução e enquanto isso as escavações para a realização da fundação da nova Catedral não podiam ter continuidade; a Comuna fez assim uma ultima “oferta” que foi recusada por ser considerada muito baixa.
Mas uma noite improvisadamente a cidade acordou em meio a clarões e enormes chamas de fogo, uma fumaça densa e escura proveniente daquela região próxima as obras do Duomo; os sinos tocavam alarmando a população local da cidade.
Eram as casas e bodegas dos “Bischeri” que (olha que coincidência!) pegaram fogo, todas de uma vez só! A família havia perdido em poucos minutos todos os seus bens: as casas e o mobiliário, os depósitos cheios de mercadorias do comercio da família; foi um verdadeiro colapso econômico e moral. Eles haviam exagerado e abusado em não aceitar a negociação e assim pagaram caro pela sua soberbia, ao ponto de a partir daquele momento, em toda a cidade, o termo “bischero” (se lê bisquero****) passar a ser usado, até os dias de hoje, com um sentido pejorativo.
Os Bischeri tiveram que fugir da Toscana e emigrar para a região da Emilia e na Romagna onde se dividiram entre Parma, Bologna e Ravena.
Dois séculos depois, no inicio de 1500 um ramo da família se enriqueceu e retornou a Florença trocando o sobrenome de “Bischeri” por “Guadagni e compraram um palácio localizado na mesma zona onde se encontravam as antigas propriedades dos infelizes que tiveram suas casas eliminadas, na calada da noite, pela Comuna de Florença.
De fato, hoje a esquina do Palácio Guadagni entre a Praça do Duomo e a Via dell’Oriuolo recebe o nome de “Canto dei Bischeri” ou seja, a “Esquina dos Bischeri”.

*Bischeri: em português se lê Bisqueri
**Santa Reparata: era a antiga catedral de Florença, menor e localizada onde hoje vemos a grande Catedral Santa Maria del Fiore. Hoje é possível visitar o que restou como registro arqueológico da Igreja de Santa Reparata através de uma escada dentro da atual Catedral e que da acesso a esta parte subterrânea.
***Comuna: a palavra comuna, na Idade Média é a designação para a cidade que se tornava emancipada pela obtenção de carta de autonomia fornecida pelo rei.
**** Hoje em dia quando você chama uma pessoa de “bisquero” é um modo de dizer: seu bobo, seu tolo!
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