A escolha do nome do blog “Città del Giglio” é profundamente ligada ao mais importante símbolo da cidade de Florença: a flor de lis. A flor de lis é, simbolicamente, identificada à Íris e ao Lírio.
Em 1252 a flor de lis vem cunhada no florim ou “fiorino d’oro”, moeda da Idade Média com no verso São João Batista padroeiro da cidade, competia diretamente com as moedas de referência internacional até o século XII: o soldo bizantino e o dinar islâmico.
São várias as simbologias desta flor, mas aqui dedico algumas linhas para contar os significados ligados à história de Florença. E para falar de Florença é preciso (no mínimo) voltar ao ano de 59 a.C quando a cidade é fundada pelos romanos.
A “città” recebe o nome de Florentia, possivelmente graças ao período na qual foi fundada, durante os Ludi Florales, um festival romano corrente no mês de maio que honrava à deusa Flora e era ligado ao ciclo agrário para consagrar as florações da primavera. E sob este aspecto dizem ainda que nome é ligado a palavra fértil que em latim significa “florentes”.
E como as flores desde tempos remotos sempre estiveram ligadas à bela “Firenze” não podia ser diferente que o principal símbolo da cidade, mais conhecida como a Città del Giglio fosse uma flor.
A sua origem é incerta, provavelmente ja no século XI o emblema fosse utilizado como marca dos florentinos na primeira cruzada, mas não com as cores invertidas como vemos hoje.
Composta por cinco pétalas sendo três principais e dois estames é desde sempre rica de significados alegóricos entre eles de símbolo de poder e grandeza, mas também de pureza e elevação. Na mitogolia grega era ligado ao culto da Deusa Hera no período de amamentação de seu filho Hércules.

Uma ligação interessante é com o nome da Catedral de Florença, Santa Maria del Fiore ou Santa Maria da Flor que simboliza a máxima expressão religiosa e espiritual em adoração à Virgem Maria e ao menino Jesus. A Catedral é dedicada a Nossa Senhora, virgem e pura, assim como o lirio branco que representa extamente esta pureza, sendo por isso um símbolo mariano. Neste sentido podemos associar a iris fiorentina ao Duomo de Florença, como simbolo da cidade e da forte devoção à Maria.

Nas inúmeras obras de arte cujo tema é a Anunciação, o arcanjo Gabriel traz na mão um lírio branco que oferece à Virgem Maria no momento em que lhe anuncia a chegada do Menino Jesus.
As cores atuais deste simbolo são do período de plena guerra entre Guelfos e Gibelinos (segunda metade do séc. XIII). Os primeiros sustentavam o papado enquanto os segundos o imperador na luta pelas investiduras que envolveram meia Europa. Em Florença venceram os Guelfos que exilaram seus adversários, e estes ultimos, mesmo derrotados, continuaram a ostentar o símbolo da cidade. E por isso os guelfos decidem de inverter as cores do brasão gibelino, que tinha o fundo vermelho com a flor branca, passando a ficar com a flor de lis vermelha sobre o fundo branco. E é o que vemos até hoje: o Giglio Rosso (rosso = vermelho, em italiano)!

A flor de lis aparece cunhada no primeiro florim (fiorino d’oro em italiano) moeda medieval emitida pela Republica Florentina que se converteu na moeda de ouro de referência na Europa nos séculos XIII e XIV. Florença era neste período uma potência mercantil e econômica no Mediterrâneo e sua moeda, o florim, pesava 3,5 gramas de ouro de cerca 24 quilates.

Este importante símbolo é citado pelo pai da língua italiana, Dante Alighieri, nascido em Florença, um guelfo branco e autor da Divina Comedia (1304-1321). No livro do Paraíso, Dante evoca de forma gloriosa a inversão das cores do brasão de sua amada Fiorenza:
« Vid’io Fiorenza in sì fatto riposo,
che non avea cagione onde piangesse;
con queste genti vid’io glorioso
e giusto il popol suo tanto, che il giglio
non era ad asta mai posto a ritroso
né per division fatto vermiglio »
Divina Commedia, Paradiso, Canto XVI, 152.

O Giglio é ainda símbolo do único time de futebol da cidade, a ACF Fiorentina (antiga Associazione Calcio Firenze Fiorentina fundada em 1926), e Florentia Viola desde 2002, a querida Viola, representada pelo flor branca em fundo roxo (roxo= viola, em italiano).

Além disto representa o poder público (Comune di Firenze) e está presente por toda a cidade: na fachada do antigo Palácio dos Senhores de Florença (Palazzo Vecchio), esculpido nos mármores e nas obras de arte, no mobiliário urbano, nos postes de iluminação, nas tampas das calçadas, nas vias urbanas, nos souvenirs, nos ônibus, no carrinho que limpa as ruas do centro histórico!









Próximo ao Piazzale Michelangelo encontra-se o Jardim da Iris, em italiano conhecido também como giaggiolo, uma espécie próxima ao lírio que cresce notoriamente nos arredores da cidade. No jardim podem ser vislumbradas mais de 1500 variedades de Iris de todo o mundo. Anualmente acontece um concurso que tenta reproduzir a espécie na cor vermelha escarlate. O vencedor do concurso que é classificado por uma série de requisitos e características singulares da espécie híbrida apresentada recebe como prêmio um simbólico florim de ouro.
Apesar dos esforços dizem que ainda não se conseguiu obter a tonalidade desejada. No jardim, que é aberto com acesso gratuito entre os dias 25 de abril e 20 de maio é possível visualizar todos os exemplares premiados dos anos anteriores desde a primeira premiação em 1954, denominada Prêmio Firenze.


Na heráldica a Flor de lis simbolizada pelo giglio é uma figura muito associada à monarquia francesa. A palavra lis é afrancesada provavelmente é uma contração de “Louis” primeiro príncipe Frances a utilizar o símbolo “fleur de louis” ou “flor de lis”.
A Flor de lis é ainda representada no “tape de bouche” (tampões de canhões navais ou de artilharia terrestre) de Joana d’Arc, e mundialmente conhecido como o símbolo do escotismo, servindo de bússola com sua ponta, originalmente representada em cartas náuticas para indicar o norte. Seu significado no escotismo é de pureza de espírito, luz e perfeição.
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